Fazia tempo que não dialogava consigo mesma. Suas horas estavam tão repletas de afazeres e obrigações e metas e cansaços que mal conseguia dizer oi para seu eu interior.
Sentia falta de tais diálogos; mergulhar bem fundo em sua essência e lá se deparar com diversas questões em stand by. Acionar os painéis um por um, para compreender o que se passa e o que, sem querer, deixou passar. Desautomatizar o cérebro e exercitar as peças deixadas de lado no meio da correria. Recuperar fragmentos de conversas e fatos, juntá-los todos diante dos olhos e analisá-los devagar, sem pressão social nem filtros para atrapalhar o veredito.
Precisava rever sua relação com o mundo, pois há muito não parava para olhar ao redor. Estava tudo tão automatizado que se espantava em não se espantar. O mistério do mundo encoberto pelo trabalho e pelo cansaço, pelo girar de máquina dos cofres e o tilintar das riquezas nos bolsos de ternos Armani; suspensos no ar, pois poucos ecos de gritos chegam ali. O mistério esquecido por aqueles que sangram diariamente para ganhar um pão superfaturado e oco; mistério deixado de lado, soterrado por coberturas de luxo e roncos de motor de modelos esportivos.
Não havia mais mistério. Havia sobrevivência e nada mais...
Por: Camila Alferes
Escrito originalmente em 23/06/2012
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