terça-feira, 25 de dezembro de 2012

|Uma Estação|


Um perfume familiar na estação reacendeu memórias há muito soterradas. Fragmentos de lembranças, sensações, texturas, odores e memórias de sentimentos pularam em sua mente; trechos incompletos de um filme de baixo orçamento, engavetado por falta de verba. Não. Trechos de um romance inventado que tinha tudo para dar errado, como efetivamente deu. Ela era muito sonhadora, romântica, solitária, complicada e intensa. Ele, muito realista, descrente, solitário e complexo.

No diálogo entre as duas solidões muita coisa ocorreu; faíscas e farpas voaram em igual força, atração e indiferença numa queda de braço cujo resultado, primeiramente prazeroso, só podia dar em desastre. A verdade se mostrou um pouco diferente: o fim foi clandestino como seu começo; acabado, finito. Ele foi, durante um tempo, fonte para sua arte poética - e nada mais. Ela ainda atiçou a curiosidade dele por um tempo, para em seguida cair no mais completo esquecimento, como assim ele desejava. Estranhos perfeitos, como sempre foram.

Apenas aquele cheiro reavivava as lembranças em sépia de vez em quando. Aquele perfume que jamais soubera identificar, algo aparentemente comum e marcante; masculino. Odor que exalava dele sem que se desse conta. Este ficara impregnado em sua memória olfativa, única testemunha de que tais fragmentos não eram invenções poéticas de uma mente ultra-criativa. Esse perfume, único conhecido entre tanta estranheza, a fazia sorrir de sua juvenil inocência e a não se arrepender e ter parado naquela estação quando assim julgou certo.

Perfeitos estranhos... era melhor assim. O tempo adoça a mais ácida das memórias e suaviza o mais irascível dos temperamentos.


Por:  Camila Alferes
Escrito originalmente em  26/06/2012.

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