sábado, 30 de junho de 2012

|A arte de desaprender|

Eu desaprendi a amar.

Durante tanto tempo disse a palavra amor ao vento, ouvindo somente o eco como resposta, sem qualquer sentimento que se equiparasse ao que existia em meu peito, que desaprendi a amar. A palavra, antes tão vibrante e repleta de significado, se tornou vazia, fria, gelada. Virou saudação na boca de pessoas que nem sabem o que é de fato o amor.

Eu, que acreditava tanto no amor, passei a desacreditar da palavra. A palavra nada mais significa, sequer consigo pronunciá-la. O sentimento, este sim cheio de sentidos, o sentimento permanece inalterado, mas o acesso a ele se tornou tortuoso; a estrada que levava a ele foi soterrada pela falta de manutenção das vias. Raras são as pessoas que agora têm acesso ao estreito fio que leva ao meu coração. Raríssimas são as que compreendem minha relutância em proferir uma palavra que nada diz pra mim, pois a única coisa que preenche a palavra amor é a ilusão.

Tornei-me cética com pessoas que dizem eu te amo para uma pessoa diferente a cada semana. As palavras são extremamente enganadoras: enganam quem as ouve e quem as profere. Desaprendi a crer em palavras.

Para amar não é preciso dizer que ama. Os sentimentos mais profundos são ditos no silêncio, na não-palavra.

Meu amor agora é uma não-palavra. As demonstrações mais verdadeiras se dão por meios diferentes da palavra. Amo agora com todos os sentidos e só quem sabe o que é um amor sinestésico sabe ao que me refiro. 

Vivo a sorte de um sentimento racional, maduro, sem as torturas que as palavras causam. Brando e forte, perene. Minhas chamas agora acalentam, não se consomem.

Vivo agora a arte de desaprender.

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