terça-feira, 29 de maio de 2012

|Eu e o Mundo|


Por vezes uma fúria cega me toma e meu universo se torna rubro. Não compreendo as razões; os motivos me parecem insuficientes. Sinto uma grande incapacidade em lidar com tantas burocracias internas e tantas demandas externas; quero sumir de mim mesma. As cores, as vozes, os odores da movimentada noite paulistana me ferem, agridem, incomodam. Não há lugar para o mundo em minha fúria muda e desvairada. Não há lugar para mim.

Minha alma se debate dentro do corpo, como animal ferido em busca da sagrada paz. Meu corpo pesa, é desengonçado, deselegante, sem atrativos nem beleza. Corpo estranho, longo, magro, sem talento para danças, para a arte, para o Belo. Não há sensualidade nesse corpo desconectado, com alma saíndo pelas orelhas, poros, fios espiralados de cabelo. Corpo altivo em sua pequenez de receptáculo, o que sabe você do mundo? Quantos corpos a desfilarem belos e graciosos, cheios de talentos de corpo que respondem imediatamente aos caprichos de almas miúdas e mesquinhas. O que sabe você do mundo? 

As árvores são o mundo. O infinito verde no aceno de ventos seculares. As flores, aprendizes, a brincarem no jardim. Brincarem de ser árvore. Brincarem de ser mundo. Meu corpo brinca de ser alma. Brinca de ser eu. As pessoas brincam de ser mundo, mas não o são. Pessoas tolas, acham que meu corpo sou eu.

Um comentário:

  1. Eu pude ouvir tua voz enquanto lia. Acho que depois deste texto você não precisa mais de nenhuma autobiografia. Pessoas tolas... acham que o mundo não é você.

    Beijos =)

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