Por vezes uma fúria cega me toma e meu universo se torna rubro. Não compreendo as razões; os motivos me parecem insuficientes. Sinto uma grande incapacidade em lidar com tantas burocracias internas e tantas demandas externas; quero sumir de mim mesma. As cores, as vozes, os odores da movimentada noite paulistana me ferem, agridem, incomodam. Não há lugar para o mundo em minha fúria muda e desvairada. Não há lugar para mim.
Minha alma se debate dentro do corpo, como animal ferido em busca da sagrada paz. Meu corpo pesa, é desengonçado, deselegante, sem atrativos nem beleza. Corpo estranho, longo, magro, sem talento para danças, para a arte, para o Belo. Não há sensualidade nesse corpo desconectado, com alma saíndo pelas orelhas, poros, fios espiralados de cabelo. Corpo altivo em sua pequenez de receptáculo, o que sabe você do mundo? Quantos corpos a desfilarem belos e graciosos, cheios de talentos de corpo que respondem imediatamente aos caprichos de almas miúdas e mesquinhas. O que sabe você do mundo?
As árvores são o mundo. O infinito verde no aceno de ventos seculares. As flores, aprendizes, a brincarem no jardim. Brincarem de ser árvore. Brincarem de ser mundo. Meu corpo brinca de ser alma. Brinca de ser eu. As pessoas brincam de ser mundo, mas não o são. Pessoas tolas, acham que meu corpo sou eu.
Eu pude ouvir tua voz enquanto lia. Acho que depois deste texto você não precisa mais de nenhuma autobiografia. Pessoas tolas... acham que o mundo não é você.
ResponderExcluirBeijos =)