domingo, 11 de dezembro de 2011

|Enjoy the Silence|

O que havia naqueles olhos que tanto a prendiam?

Foi o que sua mente, já levemente entorpecida pelo álcool e pelo sono, se perguntou no momento em que as palavras simplesmente se recusaram a sair.

Encaravam-se por longos minutos, esquecidos do barulho e alegria que espocavam na cidade. O olhar dele, fixo e certo, transbordava emoções claras, porém contraditórias. O dela, inquieto, errante, buscava um algo indefinível, tentava entender se o desejo que vislumbrara era verdadeiro e se, de fato, havia amor naquele mar castanho e quente.

As palavras gritadas ao redor chegavam vagamente aos seus ouvidos, desprovidas de significado. O tempo, sempre tão apressado e fugidio, estagnara num silêncio abundante de sentidos. A distância entre os corpos não tinha importância, pois todo o ser, o mistério inexprimível da existência, se concentrava naquela troca, naquele diálogo mudo entre duas almas.

O vento soprava forte no alto do edifício e a lua cintilava no céu noturno, mas não havia frio nem beleza externa que penetrasse naquele momento tão breve e tão raro. Sentimentos diversos preenchiam seu olhar, mas não estava certa se era possível para ele identificá-los. Havia amor e desejo, havia amizade, gratidão e um carinho sem fim. Havia medo também. A beleza de tudo aquilo era tão preciosa e tão importante que temia que - como ocorre com todas as coisas divinamente belas, porém frágeis - se extinguisse. A possível efemeridade daquela pequena joia angustiava.

Angústia... Não desejava que ele percebesse a sombra angústia em seu olhar, mas sabia que ele já percebera. Aqueles olhos profundos a desnudavam completamente e, perspicazes, percebiam nuances de seu ser que lhe eram desconhecidas.

E ela, com a alma nua e quase desvendada, se prendia àquela vontade de sentir as palavras ditas na quietude da experiência, de provar o gosto doce e picante das sensações que preenchiam o ambiente composto por aqueles pares de olhos que se defrontavam, de vivenciar o êxtase de uma conversa infinita entre duas almas que, em sua diversidade, se compreendiam.

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