Esgotada.
Era assim que se sentia ao mirar-se no espelho pela enésima vez. Procurava loucamente reconhecer naquelas feições abatidas pelos revezes da vida parte do que já fora. Escrutinava a própria face, tentando descobrir como envelhecera tão rápido. Seu rosto e corpo permaneciam jovens, seu RG comprovava que nascera há pouco mais de trinta anos, mas sua alma, cansada, estava velha. Sabia que parte de sua alma ainda era jovem e inocente e cheia de vida, mas essa outra parte subitamente tomara o controle e ela não conseguia se livrar. Amarga, descrente da vida e da bondade. Uma alma desconfiada, retraída, rancorosa e irremediavelmente solitária e triste. Sentia um buraco negro onde outrora fora seu coração.
Estava cansada. Cansada da vida que levava, sem grandes tragédias, mas também sem grandes acontecimentos. Cansada de falar e de ouvir. Cansada de tentar mudar, de tentar ser diferente e, no fim, tais mudanças não levarem a lugar algum. Cansada de tentar compreender e de tentar ser compreendida. Ninguém a compreendia, nem ela mesma. Ela era seu maior mistério, mas estava cansada de desvendar mistérios.
Mirou o espelho uma última vez e suspirou pesadamente. Finalmente chegara a conclusão que tanto procurara: Estava cansada de si mesma.
E o que fazer quando se cansa de si mesmo?
O que fazer?
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